quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Reinventar a sociedade

Em ano de discussão sobre Ativismo Político, o Priorado Cavaleiros da Terra de Jerusalém promove a reflexão sobre os meios pelos quais nós podemos modificar nosso meio, em prol de uma sociedadade melhor. Portanto, trazemos aqui o texto "Reinventar a sociedade", de Tiago Franz, colunista do site Perspectiva Política. Esperamos que seja uma boa contribuição às discussões entre os DeMolays mundo afora.

Reinventar a Sociedade

Tão habituados estamos a comentar a esfera formal da política que acabamos deixando de lado iniciativas igualmente importantes de manifestação e organização social. Não acho possível, pelo menos por mais alguns séculos, que o Estado e suas instituições complementares sejam extintos, nem é isso que proponho. Entretanto, reconheço e valorizo diferentes práticas que grupos e indivíduos têm experimentado na contemporaneidade. Um propósito ativista germina em grandes centros urbanos, com causas diversas e um desejo comum: reinventar a vida em sociedade, corrigindo “erros históricos”.

Não se trata de radicalismo do tipo “hay gobierno? soy contra!”. Tampouco são grupos violentos. Alguns defendem, sim, que líderes e organizações são desnecessários. Porém, suas causas é que são a essência do que vivem. É mais um engajamento por algo em que acreditam, do que uma negação daquilo que não querem. Enfim, jovens estão fazendo política por outros meios que não os tradicionais.

Há, em São Paulo, e em outras grandes cidades do mundo, iniciativas de ativismo com estas características. Uma reportagem da Istoé Independente, de março, apresentou alguns exemplos. Denominações como “Veganos” (que defendem o não consumo de produtos de origem animal) e “Jardinagem de Guerrilha” (que executam ações de cultivo de plantas em locais públicos, sem autorização) são usadas por alguns dos grupos. Não sei dizer de onde se originaram tais nomes, se dos próprios ativistas, da imprensa ou de estudiosos. O Núcleo de Antropologia Urbana da USP realiza estudos com os ativistas de São Paulo.

A reportagem menciona ainda, entre os fatores de mobilização, a desigualdade enfrentada pelas mulheres e o caos do trânsito urbano. E, entre as características dos novos ativistas, destaca: “são engajados, mas não querem saber de partidos políticos”; “envolvem-se em causas humanitárias, sociais e ecológicas, mas acham que as organizações não governamentais (ONGs) estão fora da realidade”, “rejeitam líderes e, para se organizar, usam a internet, numa rede que os liga a grupos semelhantes na mesma cidade, ou outros países”.
Mas afinal, por que são importantes? Por que usei o termo “erros históricos”? Este ano assisti a uma palestra sobre desperdício e escassez de recursos naturais na produção de alimentos: indiscutivelmente, uma questão global. Ao final, um participante exclamou exaltado que gostaria que o desperdício continuasse, se outras espécies animais pudessem usufruir daquilo que o ser humano perde. O palestrante concluiu: “realmente, é uma realidade pensada por um viés totalmente antropocêntrico”. Pensar o uso da terra e dos recursos do planeta como inteiramente a serviço dos homens é uma realidade, e é um erro histórico.

Nesse sentido, mudanças profundas só são possíveis quando paradigmas são rompidos. Ao imaginarem e experimentarem uma nova relação do ser humano com as demais espécies animais, o que implica uma nova economia e outras transformações culturais marcantes, os ativistas ligados à causa fazem política à sua maneira. Assim, os grupos pela libertação animal, os próprios veganos, jardineiros de guerrilha e outros, tentam mostrar para a humanidade que é possível viver em um ambiente diferente.

Temos atualmente uma série de assuntos que perpassam a linha entre esquerda e direita. São os ditos politicamente corretos. Quem é que, hoje, não defenderia publicamente a igualdade entre os sexos e a proteção do meio ambiente? Bem, uma coisa é querer, outra é realizar. Sabemos como é e o quanto custa, para os meios tradicionais da política (governos, representantes, justiça, empresas, grupos de pressão e tudo mais), corrigir um erro histórico. Sabemos também que, nos últimos séculos, a humanidade conseguiu evoluir em muitos aspectos. Isso ocorre porque as pessoas mudam e a realidade está sempre em movimento. Pequenas mudanças, aqui ou ali, com o tempo, viram grandes transformações.

Algo se torna formal e aceito pela sociedade quando as pessoas materializam aquilo em que passam a acreditar. É por isso que o novo ativismo político-social, assim como as outras formas de manifestação e organização política, é tão importante.

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